Autor: Anthony Marra
Editora: Intrínseca
Páginas: 334
Ao ver sua casa pegando fogo, após seu pai ser levado por soldados russos, Havaa, de 8 anos, se esconde na floresta e observa as chamas até que um vizinho a encontra sentada na neve. Akhmed sabe que se envolver significa arriscar a própria vida e que não há lugar seguro para abrigar uma criança na vila, onde informantes fazem qualquer coisa por um pedaço de pão. Mesmo assim, ele a conduz até o único lugar em que acredita que a menina poderia estar a salvo: um hospital abandonado que já teve quinhentos funcionários e onde a úica médica restante, Sonja, está no degrau mais baixo de sua carreira, amputando membros dilacerados em pacientes atingidos por minas terrestres.
Em uma linha do tempo que varia entre 1994 e 2004, Anthony Marra traça um quadro da Chechênia durante essa década, mostrando os resultados dos conflitos recentes entre esse país e a Rússia, um dos pontos mais importantes da História Moderna, mas que vi pela primeira vez retratado em um romance durante a leitura de Uma Constelação de Fenômenos Vitais. Quando eu digo que esse livro é um romance, me refiro ao fato de ser uma narrativa longa, porque não há nele um casal central cujo relacionamento o leitor acompanha. Aliás, o foco do livro não é casal nenhum, mas sim as vidas, os sentimentos mais profundos e as esperanças de cada personagem que ele acompanha. Já deixo claro que a intenção do livro não é educar, em nenhum momento o autor vai dar aulas de História. As diversas dificuldades enfrentadas pelos personagens, suas memórias e seus medos é que formarão a imagem do país que os rodeia.
Devo dizer que a razão para eu ter pegado esse livro foi a lembrança do meu professor de Geografia apontando aquele país no mapa desenhado no quadro e dizendo que precisávamos decorar o nome. E eu só pensando no porquê de essa tal de Chechênia ser importante para o vestibular. De fato, não encontrei nenhuma questão sobre a Chechênia (nem na prova do tal professor), mas de algum modo essa memória se juntou às outras que passei a visitar com carinho e que me remetiam aos meus anos de Ensino Médio (certo, terminei o Ensino Médio dois anos atrás, mas foram dois anos muito longos). E mesmo eu tendo pegado Uma Constelação de Fenômenos Vitais para ler esperando uma narrativa arrastada sobre um país que, surpreendentemente, sei onde fica, estou pronta para declarar que finalmente aquela aula de Geografia se provou útil, porque por causa dela eu li um dos melhores livros publicados nesses últimos anos e que realmente tocou meu coração.
‘‘Apenas uma entrada fornecia uma definição adequada, e ela a circulou com tinta vermelha, e recorria a ela todas as noites. Vida: uma constelação de fenômenos vitais - organização, irritabilidade, movimento, crescimento, reprodução, adaptação.’’
A narrativa não é contínua, em um capítulo a história pode se passar em 1995 e, no seguinte, em 2001, mas eu não me perdi em nenhum momento, porque no início de cada capítulo há uma linha do tempo que já deixa claro em que ano vai acontecer o que será contado. Na verdade, foi essa ida e vinda no tempo que fez a história não ficar parada, e também o fato de, por haverem tantos personagens para explorar, um grande espaço de tempo se passar bem rápido. O livro conta com resumos das vidas de diversas pessoas, algumas mais importantes no contexto da história do que outras, mas não dá para sentir que falta algo. Por mais rapidamente que seja contada a história de alguns personagens, o autor o faz de uma maneira delicada e emotiva, marcando os principais acontecimentos.
Aliás, foi o estilo de narrativa do autor que mais chamou a minha atenção no livro. Por mais que, em vários momentos, ele esteja contando fatos horríveis e dolorosos, o faz com uma delicadeza que é capaz de transformar aquilo em algo belo. Claro que determinadas cenas não deixam de ser dolorosas de ler, por serem tão reias e tão repletas de sofrimento, mas aí logo depois o autor irá, de certa forma, assoprar a ferida do leitor. Para mim, esse livro foi bem isso, constantes ferimentos sendo logo cicatrizados. E, no final, eu senti um misto de tristeza e felicidade que me fez dar nota máxima à história.
‘‘Na mesa da cozinha, examinou o copo de gelo. Os cubos estavam arredondados e dissolvendo-se em seus próprios restos, e entendeu, tardiamente, que era assim que um ente querido desaparecia. Apesar do choque de entrar em um apartamento vazio, a ausência não é imediata, é mais um desbotamento do tempo presente que você compartilhou, um derretimento em direção ao passado, não um apagamento, mas uma conversão na forma, da presença à memória, de sólido para líquido, e pessoa que você tocou um dia agora corre sobre sua pele, agora escorre por suas costas, e você pode se banhar, pode afundar, pode se afogar na memória, mas seus dedos não podem segurá-la. Ela levantou o copo até os lábios. A água estava limpa.’’
Apesar do meu amor por esse livro, devo dizer que não é uma história para todo o tipo de leitor (aliás, que história é?), mas sim para aqueles que gostam de livros que exploram mais os sentimentos humanos e que não têm como objetivo fornecer um plot intrigante do começo ao fim, com viradas de tirar o fôlego e mocinhos que arrancam suspiros. Eu não me senti entediada durante a leitura, porém o li em um ritmo constante, sem aquela ansiedade para ler logo o capítulo seguinte e tentar ficar acordada o máximo possível só para não perder nada. Mas esse, na minha opinião, foi outro dos pontos altos da narrativa, porque eu precisava de uma pausa nessas minhas leituras tão viciantes. No fim, a história dele, mais do que as dos livros que li em um ou dois dias, ficou guardada na minha memória. E, devo dizer, o modo como tudo se entrelaçou no final ainda me deixa em um certo estado de encantamento.
Outra coisa de que gostei muito foi o fato de o narrador ser onisciente e, por isso, nos dar algumas visões do futuro (por exemplo, daqui vinte anos), assim como relatos curtos e muito tocantes das vidas de personagens passageiros, cujos nomes muitas vezes nem são revelados. Isso deu mais vida à história, realmente formando uma constelação de fenômenos vitais que não dizem respeito a uma única pessoa, mas também àquelas que cruzam seu caminho, mesmo que por uma única vez.
Eu realmente gostei de saber mais sobre a Chechênia, embora no final o livro tenha me conquistado não pelo contexto histórico, mas pelos personagens aos quais me apeguei (que foram muitos). É certamente um livro que vou guardar para meus filhinhos (sem mansões e fortuna no banco para eles, coitados), até porque a capa é linda e ficará ótima na minha estante até essas crianças nascerem. E, obviamente, irei reler a história, talvez até mais cedo do que imagino, já que só de escrever essa resenha estou ficando com vontade de voltar para alguns capítulos.
A minha recomendação fica para aqueles que querem uma leitura tocante e que vai ficar na memória, assim como para quem quer aproveitar a chance de conhecer um cenário diferente e descobrir mais sobre outra cultura, e sobre as vidas que a carregam. Quem gosta de Markus Zusak e Khaled Hosseini provavelmente vai amar essa leitura tanto quanto eu.
Nossa ameiiiiiii
ResponderExcluireu quero para mimmmm
amei a resenha,
Blog: hlanjens.blogspot.com.br
Então corre e compra porque, nossa, vale muito a pena *-*
ExcluirBeijo!
Oi Luiza tudo bem? eu ando vendo muitas resenhas positivas sobre o livro. Adorei que o livro é para todas as idades e adorei a sensibilidade do autor ao apresentar sua história.
ResponderExcluirCom certeza é um livro que está anotado e quando tiver a oportunidade vou ler!
Beijos,
Joi Cardoso
Estante Diagonal
Oi, Joi (:
ExcluirEu vi muito poucas resenhas sobre esse livro (tenho que procurar mais, inclusive, porque adoraria ler mais opiniões sobre ele) e nenhuma foi negativa. Acho que desde que você saiba em que tipo de gênero está se metendo, não tem como não gostar, o autor fez um trabalho estupendo. Tomara que você leia também <3
Beijão!
Oi, Luiza ^^
ResponderExcluirTudo bom?
Conheci o blog agora, criativo e interessante. Já segui no gfc e twitter, e curti a pagina no facebook.
Nossa que capa linda *-* A Editora Intrínseca sempre capricha. Nunca tinha ouvido falar do livro ,mas gostei bastante da premissa. Espero poder ler, amei a resenha :))
Abraços do Dan ♥
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Oi, Dan! Vou te contar que eu também sou nova aqui no blog, essa é a minha primeira resenha, mas já me sinto super feliz de escrever aqui. Tomara que você continue curtindo o conteúdo e que leia o livro, porque ele é fantástico. Abraço!
ExcluirNão conhecia esse livro, achei a capa linda mas acho que eu não sou o tipo de leitora que iria gostar desse livro HUSHAU Preciso começar a ler outros tipos de livros e não só romances românticos. Adorei o fato do narrador ser onisciente, torna tudo mais interessante,
ResponderExcluirBeijoos,
Sétima Onda Literária
Romances românticos são o açúcar do meu coração <3 Mas é sempre bom experimentar coisas novas, quem sabe um dia você não resolva dar uma chance para esse livro, né? E eu adoro narradores oniscientes também, porque se é para ler um livro, que eu saiba tudo sobre ele kkk
ExcluirBeijo!
Nossa, eu tenho esse livro a muito tempo e nunca parei pra ler. Comprei pela a capa(quem nunca)rs! depois dessa resenha será minha leitura da semana.
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