Autor: Oscar Wild
Editora: Abril
Páginas: 298
Dorian Gray era um jovem com uma beleza praticamente sobrenatural que, sob a influência de Henry Wotton, passou a enxergar o poder da própria juventude e amaldiçoou a si mesmo, condenando seu retrato, pintado pelo apaixonado Basil Hallward, a reter as marcas de sua depravação e de seu envelhecimento. O Retrato de Dorian Gray, além de moralizante nos avisos que dá, também é um relato cortante dos hábitos da aristocracia inglesa do séc. XIX e uma grade conquista estética na literatura, exaltando não apenas o que há de belo na vida, mas fazendo parte do que há de belo na arte.
Na primeira vez que li O Retrato de Dorian Gray, não consegui chegar até a metade sem abandoná-lo achando que nunca mais iria abrir aquele livro pelo simples fato de que um dos personagens, Henry Wotton, fazia com que eu tivesse vontade de descarregar uma metralhadora na cara dele. Devido à impossibilidade de machucar fisicamente — ou de qualquer outra maneira — um personagem literário, minha única alternativa foi parar de ler e começar a falar mal do livro para qualquer um que o mencionasse. Não me arrependo de ter parado de ler, acho que esse livro não vale a pena se você vai passar metade da leitura se irritando com as falas de um personagem. Então, se isso acontecer com você, de começar a história e sentir que não pode suportar que os personagens sejam à prova de balas, guarde o volume na estante e deixe para tentar outra vez quando estiver vontade de ler algo só porque é escrito de uma maneira maravilhosa e porque, com o passar do tempo, você desenvolveu uma admiração e uma atração (sexual mesmo, admito) pelo autor.
Agora que terminei de ler o livro, posso dizer que ainda amo o Oscar Wild mais do que amo essa história. Mas isso é só porque Wild é a minha fada madrinha do século XIX. Ele move a sua varinha, diz “We are all in the gutter, but some of us are looking at the starts” e, pronto, mágica.
Agora que terminei de ler o livro, posso dizer que ainda amo o Oscar Wild mais do que amo essa história. Mas isso é só porque Wild é a minha fada madrinha do século XIX. Ele move a sua varinha, diz “We are all in the gutter, but some of us are looking at the starts” e, pronto, mágica.
É
importante esclarecer que não estou tentando fazer uma resenha muito profunda
do texto, não quero apontar quais são as sacadas geniais dele em relação à
realidade, porque isso é algo para ser descoberto durante a leitura, não vou
fazer conexões entre ele e a vida do autor, elas devem ser procuradas às 3h20
da madrugada por aqueles que se interessam, e também não vou dizer que esse
livro deve ser lido por todos. Não deve, cada um lê o que quer.
Eis
o que você vai encontrar em O Retrato de Dorian Gray:
1) Um texto escrito de maneira lindíssima, porque
Wild era mestre na estética, especialmente se conseguir ler o original em
inglês. Eu li em português mesmo, mas tive a experiência de ler uma peça dele
em inglês e, sério, ele é o tipo de autor que não se traduz, cujo texto é
apenas adaptado da melhor maneira possível.
2)
Personagens difíceis de engolir. O Dorian Gray,
na minha opinião, é um bobo. O Henry não é bobo, mas é chato. Basil é um chorão
que desperta simpatia, mas só um pouco, já que ele se apaixonou por um bobo.
Uma amiga já me disse e concordo: o melhor personagem é o Oscar Wild. É só com
ele que quero caminhar de mãos dadas em direção ao pôr-do-sol.
3) Epigramas inteligentes por parte de Henry
Wotton:
— A quem você não sacrificaria, Harry, por um epigrama?
Veio a resposta.
— E o mundo sobe ao altar de livre e espontânea vontade.
4) Frases com as quais você não quer concordar, mas
concorda. Frases com as quais você não concorda, mas quase. Frases com as quais
você concorda tanto que precisa abraçar o autor, mas não pode. Frases. Frases.
Tantos marcadores gastos...
Palavras! Meras palavras! Quão terríveis eram! Quão claras, vívidas e cruéis! Delas, ninguém consegue escapar. Mas que mágica sutil contêm! Parecem capazes de dar uma forma plástica a coisas amorfas e de conter uma música própria, doce como a da viola, do alaúde. Meras palavras! Existiria algo tão real quanto as palavras?
5) Traduções problemáticas. Na minha, o tradutor trocou
“inútil” por “útil” no prólogo, mudando todo o sentido da frase. Na verdade,
tirando o sentido dela. E aposto que na sua você vai encontrar alguma coisa
assim, porque os tradutores são seres humanos e Wild era uma fada, tem que
haver uma dificuldade de comunicação aí.
6)
Etc, etc.
Penso que esse é um dos livros que precisam ser devidamente apreciados, não adianta ler esperando que o plot seja cheio de reviravoltas e personagens que despertam simpatia, não adianta querer shippar ninguém ali dentro, não adianta querer descarregar uma metralhadora na cara do Henry Wotton. Ou do Basil. Ou do Dorian. Ou do próprio Oscar Wild. É uma delícia de livro para ser lido sem pressa, apreciando o que ele diz sobre a sociedade do século XIX, o que diz sobre nosso século e o que diz sobre ser humano.
Tudo bem se não parece o seu tipo de livro, tudo bem se você não gostou durante a primeira leitura. Mas talvez, um dia, você se interesse pela história, pelo próprio Wild, e resolva dar ao livro uma chance, sem esperar que ele sirva para alguma coisa, como entretenimento ou fonte de orgulho próprio na hora de marca-lo como “lido” no Skoob. Wild já disse, “toda arte é demasiado inútil”. E “é o espectador; e não a vida, que a arte, na verdade, espelha”, então talvez você deva ler o livro quando estiver com vontade de olhar em um espelho um pouquinho diferente.
Tudo bem se não parece o seu tipo de livro, tudo bem se você não gostou durante a primeira leitura. Mas talvez, um dia, você se interesse pela história, pelo próprio Wild, e resolva dar ao livro uma chance, sem esperar que ele sirva para alguma coisa, como entretenimento ou fonte de orgulho próprio na hora de marca-lo como “lido” no Skoob. Wild já disse, “toda arte é demasiado inútil”. E “é o espectador; e não a vida, que a arte, na verdade, espelha”, então talvez você deva ler o livro quando estiver com vontade de olhar em um espelho um pouquinho diferente.
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