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9.5.17

[Resenha] Cujo :: Stephen King

Cujo
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Páginas: 373
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Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode ficar em paz novamente. O serial-killer que aterrorizou o local por anos agora é apenas uma lenda urbana, usada para assustar criancinhas. Exceto para Tad Trenton, para quem Dodd é tudo, menos uma lenda. O espírito do assassino o observa da porta entreaberta do closet, todas as noites. Você pode me sentir mais perto… cada vez mais perto. Nos limites da cidade, Cujo – um são bernardo de noventa quilos, que pertence à família Camber – se distrai perseguindo um coelho para dentro de um buraco, onde é mordido por um morcego raivoso. A transformação de Cujo, como ele incorpora o pior pesado de Tad Trenton e de sua mãe e como destrói a vida de todos a sua volta é o que faz deste um dos livros mais assustadores e emocionantes de Stephen King.
inspiração e imaginação de King mais uma vez invade a mente do leitor, desta vez tendo a trama voltada para o meio familiar. Duas famílias distintas, os Trenton e os Camber, moradores da pequena cidade de Castle Rock, no Maine. E Cujo entre as duas famílias, qual a uma ponte que liga laços, mas às vezes esses laços são trágicos e é melhor que a ponte seja destruída.

Tad Trenton é um garoto de três anos cujo maior medo é encarar o próprio closet, pois acredita que uma coisa terrível se esconde nas profundezas do móvel. A mãe, Donna, acaba de sair de um caso fora do casamento e agora pensa se vale a pena contar tudo para o marido, mas seu amante, Steve, revoltado com o fim do caso, vira uma ameaça à sua família. Enquanto isso, na família Camber, Charity sofre com o casamento, presa sob as garras do marido, Joe e preocupada com a educação e o futuro do filho, Brett. E Cujo, um são-bernardo enorme e alegre, adotado pela família Camber, é o elemento de ligação entre as famílias e suas situações.

Charity ganha na loteria, no entanto, e resolve visitar a irmã por uma semana com seu filho, Brett. Ao mesmo tempo, Vic, marido de Donna, que é publicitário, ganha uma nova oportunidade de trabalho em Nova York e tem de deixar a mulher e o filho por um tempo. Nesse ínterim, com os dois núcleos conturbados, Cujo, o cão, é mordido por um morcego-vampiro e contrai raiva, tendo seu estado físico e “mental” alterados, transformando-o aos poucos em um cão malévolo, raivoso. Logo (e seria spoiler dizer como), Cujo vira o maior pesadelo de Donna e de seu filho, Tad, uma ameaça ainda maior que Frank Dodd, o serial killer morto há anos, ou Steve Kemp, ex-amante de Donna.


Escrito em um período em que King estava sob total influência de drogas (e que ele jura nem se lembrar do período de escrita), Cujo apresenta elementos inovadores, tanto para a época em que foi publicado quanto para o estilo literário do autor. Um livro composto por núcleos interessantes onde os dramas familiares são os vilões da história, onde situações são entrelaçadas e o leitor é pego de surpresa. Com uma narrativa fluida e rápida (o que é estranho em se tratando de King), o ritmo de leitura cresce a cada página, tendo vários subclímaxs para abastecer o tanque para o final, explosivo.

O livro é inspirado em uma situação que aconteceu com o autor, semelhante ao que acontece com Donna e Tad no meio da história. Isso torna tudo muito real e subjetivo, o que cria espaços para se pensar em caminhos diferentes para a narrativa. Apesar de ser considerado um thriller (acredito que quando se fala em Stephen King todo mundo liga seus livros a um único gênero, o terror), para mim Cujo é uma obra-prima dramática e sensacional. É comparável a romances clássicos, onde vários pontos de vista são lançados e cada um despenca para vários acontecimentos, mas sem necessariamente terem ligações entre si. E o interessante está aqui: com núcleos assim, criar uma história ampla e complexa torna a obra fantástica.

É claro que muitos livros não dão certo com isso. Mas King conseguiu arrematar o velho, fazendo-o novo. E Cujo é tão complexo e subjetivo que nas últimas páginas parecia que a história não acabaria, porque havia muita coisa para se contar ainda – e isso poderia acontecer sem problema nenhum. Porém, o problema central da trama – o mal que nunca deve ser subestimado e mantém a atenção do leitor – é o cão. Como nos demais livros do autor, o final é inesperado, e talvez escrever além do que já foi concluído poderia sim ser um desastre. Então conclui-se que Cujo manteve a pegada (que engraçado), juntou todas as pontas e deixou cada leitor perplexo.

Embora eu considere drama o tema principal, o horror está presente em grande parte da história. Castle Rock é uma cidade fictícia que é assombrada por Frank Dodd, um assassino em potencial morto há alguns anos. E parece que o espírito do ex-policial habita cada parte da cidade, aterroriza pessoas e crianças. Uma aura sobrenatural bruxuleia na trama por conta disso.

O livro, para mim, está longe de ser um dos melhores do autor (se bem que King não tem livros “ruins”, não pra mim), mas ainda assim é recomendável e vale a pena ler a nova versão publicada pela Suma. Nessa edição atual, após o término do romance, há uma entrevista feita em 2004 com o autor. 40 páginas de perguntas e respostas que nos fazem adentrar a mente do mestre do horror e ver que, no final, um bom livro é fruto de uma situação desconcertante que acontece conosco o tempo todo.

Cujo já foi adaptado para o cinema, dirigido por Lewis Teague em 1983. O livro foi publicado pela primeira vez no Brasil sob o título “Cão Raivoso”. 



Por Saullo Brenner


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