Autor: Vitor Martins
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Jonas não sabe muito bem o que fazer da vida. Entre suas leituras e ideias para livros anotadas em um caderninho de bolso, ele precisa dar conta de seus turnos no Rocket Café e ainda lidar com o conservadorismo de seus pais, sua mãe alimenta a esperança de que ele volte a frequentar a igreja, e seu pai não faz muito por ele além de trazer problemas.
Mas é quando ele conhece Arthur, um belo garoto de barba ruiva, que Jonas passa a questionar por quanto tempo conseguirá viver sob as expectativas de seus pais, fingindo ser uma pessoa diferente de quem é de verdade. Buscando conforto em seus amigos (e na sua história sobre dois piratas bonitões que se parecem muito com ele e Arthur), Jonas entenderá o verdadeiro significado de família e amizade, e descobrirá o poder de uma boa história.
Isso se trata de uma convocação, para que vocês conheçam um dos melhores livros que eu li nos últimos anos! E não, eu não estou exagerando.
Tenho focado muito na literatura nacional - mais contemporânea, claro - e cada vez mais tenho para mim, reforçado, que temos pérolas maravilhosas aqui que PRECISAM da nossa atenção e carinho. Foi tão, tão gratificante e feliz e catártico ler "Um milhão de finais felizes" e não só achar a estória, os personagens e tudo muito perfeito, mas também reconhecer os lugares como sendo meus lugares, reconhecer as emoções como sendo emoções que nós jovens brasileiros enfrentamos frequentemente, reconhecer esse livro como sendo algo com o qual eu possa me apropriar e dizer "Gente, isso é tão a gente!"
Por isso foca aqui e bora pra resenha desse bebê!
Jonas é um jovem gente como a gente que acabou de se formar no ensino médio e ainda não sabe muito bem o que quer da vida. Ele sabe que quer escrever, pelo menos na cabeça dele a escrita fluí e ele tem boas ideias, o problema é colocá-las no papel de uma forma que ele sinta vontade de continuá-la, por isso Jonas ainda não se decidiu por qual curso fazer na faculdade e acredita que o melhor no momento é trabalhar até que ele se sinta pronto para essa nova fase da vida estudantil. Afinal ele só tem 19 anos, não é o fim do mundo ainda não fazer faculdade... Por isso Jonas trabalha na Rocket Café, uma cafeteria na Av. Paulista fissurada pelo espaço com seus cafés e bolinhos espaciais.
Jonas não ama seu trabalho, pegar o trem da linha turquesa todo dia no horário de pico é uma tarefa que ninguém gosta - NINGUÉM -, mas pelo menos o tira de casa, o mantendo longe da mãe conservadora e do pai autoritário, e ainda lhe rende dinheiro suficiente para comprar suas coisas, pagar as contas e provar para o pai que não é um daqueles moleques folgados que terminam a escola, fazem merda nenhuma e só se aproveitam da mãe tão boazinha que chega a ser idiota.
Jonas não ama seu trabalho, pegar o trem da linha turquesa todo dia no horário de pico é uma tarefa que ninguém gosta - NINGUÉM -, mas pelo menos o tira de casa, o mantendo longe da mãe conservadora e do pai autoritário, e ainda lhe rende dinheiro suficiente para comprar suas coisas, pagar as contas e provar para o pai que não é um daqueles moleques folgados que terminam a escola, fazem merda nenhuma e só se aproveitam da mãe tão boazinha que chega a ser idiota.
“Dentro de mim, sinto uma mistura de gratidão com indignação. Penso no esforço da minha mãe para manter a casa em ordem todos os dias e no esforço do meu pai para que ela sinta que tudo o que ela faz não é o bastante. É o tipo de sentimento que me dá vontade de gritar e sumir ao mesmo tempo. Eu me sinto cheio, mas vazio ao mesmo tempo. É exaustivo demais viver assim”.
E tem a melhor coisa da Rocket Café também: criar fanfics imaginárias para os inúmeros clientes que entram todos os dias desesperados por um café e ver se algum deles é inspiração o suficiente para que Jonas finalmente sinta que quer mesmo ser um escritor e que pode ser um escritor. Assim ele anda com seu caderninho de anotações, armado de sua caneta e sempre atento para a história que seu próximo cliente vai lhe contar.
Eis então que após uma briga horrível com seu pai, nenhum apoio da sua mãe, uma chuva torrencial, meias completamente molhadas que Jonas - quando não está esperando mais nada de bom do dia - dá de cara com o cliente mais gracinha que ele já viu. Ou o certo seria dizer o cara mais lindo que ele já encontrou pessoalmente e desejou com todas as forças para não ser hétero?
Acontece que o cliente gracinha, de barba e cabelos ruivos, olhos verdes e um sorriso fofo começa a povoar a mais interessante estória já criada por Jonas: piratas gays. E para Jonas não é nada, nada mesmo, mal que os dois piratas se pareçam exatamente com versões mais sexys, brutas e piratas dele e de Arthur, o cliente ruivo.
Mas isso fica só na imaginação dele mesmo, pois no dia-a-dia Jonas não consegue saber se Arthur joga no mesmo time que ele ou não e por isso prefere se manter no anonimato de "Olá, eu sou o cara legal que te serve café e pães de queijo do espaço de vez em quando!", mas tudo isso muda quando comemorando o carnaval, fantasiado, em uma das baladas da Augusta, Jonas esbarra em um solitário Arthur e decide que se vai ser vela dos seus amigos ele bem que pode juntar coragem para ver qual é a desse cara.
Eeeeeee, vocês já podem imaginar não é mesmo?
Mas o que vocês provavelmente não imaginam - ou talvez imaginem - é que os pais de Jonas não sabem que ele é gay.
"Houve uma curta fase na minha vida em que tentei mudar. Eu tentei não ser gay, não olhar para os meninos bonitinhos da escola e pensar que beijá-los não seria má ideia. O esforço de tentar mudar a minha cabeça era tão exaustivo que, num determinado ponto da adolescência, eu apenas aceitei que eu era assim. Não foi o tipo de aceitação que deixava a gente aliviado. Aceitar que eu sou gay significou aceitar que eu vou para o inferno e viver constantemente com medo da morte. Esse tipo de pensamento não me assombra com tanta frequência como antes, mas ainda existem noites em que, antes de dormir, eu olho para o teto e penso que, em algum lugar, existe um Deus que está extremamente desapontado comigo."
Ele foi criado em uma família extremamente conservadora e religiosa que o ensinou que ser gay é tão errado que é praticamente igual a comprar seu bilhete para o inferno. É galerinha, eu sei, pesado né? Mas essa ainda é a realidade de muitas pessoas e família, eu mesma fui criada assim e mesmo que eu tenha ensinado à alguns membros mais velhos da minha família que preconceito é uma coisa muito horrível com muito custo e vários surtos de "TEM CERTEZA DE QUE VOCÊ NÃO É LÉSBICA NÉ?", eu ainda vejo que por mais que eles respeitem e briguem com os outros por falta de tolerância na cabeça deles é: "Você não precisa concordar, é a escolha deles e não te afeta. O que é deles virá."
E isso é muito triste, que as pessoas realmente acreditem que Deus irá te condenar pelo simples fato de você amar romanticamente alguém que não é biologicamente apto para produzir uma nova vida do zero junto de você... principalmente quando a capacidade de produzir nada tem a ver com cuidar, amar, zelar...
“O contraste de como eu me sinto dentro e fora de casa fica cada vez mais evidente. É cansativo viver nessa montanha-russa que sobe e desce o tempo inteiro. Eu não aguento mais. Quero andar em linha reta, na montanha-russa mais sem graça de todos os tempos. Ou melhor, quero descer desse brinquedo. Quero sair daqui. Eu não sei como sair daqui. Eu quero me sentir bem.”
"Nem sempre a família que nasce com a gente vai nos entender. Nem sempre eles vão ficar do nosso lado pra sempre. Mas isso nunca vai te impedir de escolher uma família nova."
E como se já não bastasse esse tapa maravilhoso - e choroso, pois eu me emocionei de chorar na rua e ter que comer uns docinhos para voltar a acreditar que a vida não é uma completa merda - Vitor ainda nos mostra um trio de amigos que é totalmente nossa geração.
Quem não tem aquele momento que se reúne com os amigos do ensino médio e percebe que vocês ainda são vocês mas que ao mesmo tempo um grande abismo começa a separá-los? Cada um foi numa direção diferente, um está num curso muito bom, fazendo estágio e tudo mais, outro está numa boa faculdade e namorando sempre e você está ali sem saber que curso fazer, trabalhando onde conseguiu e só pensando no crush que você nem sabe se sabe seu nome. É meio desesperador se perguntar: "O que eu estou fazendo da minha vida para ainda estar aqui?"
"Eu não posso prever o futuro, e ninguém tem felicidade garantida pro resto da vida. Pode ser que amanhã as coisas piorem. Pode ser que você ganhe na loteria e as coisas melhorem mais ainda. A gente não tem controle de nada. Mas você não pode deixar essa falta de controle te impedir de viver o agora."
Mas essas são coisas que você não pode controlar, você só pode lidar e suportar, lidar e superar. Nada mais. Contudo Vitor consegue nos mostrar como antigas e novas pessoas integram nossa vida, como escolhas são sempre difíceis e como aos seus olhos algo belo é completamente feio quando visto do outro lado.
E isso é lindo.
“Quando abro a porta, ele me cobre com o abraço mais apertado que eu já recebi na vida. Diferente de Karina, ele não parece ter medo de me quebrar. Seu abraço me enche de fôlego e, de alguma forma, junta alguns pedaços que estavam espalhados em mim até agora”.
Mas voltando ao nosso casal... até isso é perfeito, a maneira como eles se descobrem - não afirmar sua sexualidade, eles já sabem sobre isso - como pessoas um no outro. Toda vez que eu paro para pensar em um romance saudável e ideal "Um milhão de finais felizes" pisca em minha mente por ser realisticamente perfeito. E muito fofo, dá vontade de grifar todas as partes desse livro, pintar tudo de amarelo hahaha.
"Mesmo passando por tanta coisa na vida, você ainda guarda um milhão de finais felizes aí dentro."
- Você lê literatura nacional?
- Sim
- Já leu Um milhão de finais felizes do Vitor Martins?
- Não
- E lê literatura nacional?
Amei a resenha! Maravilhoso, me deu uma vontade enorme de ler esse livro. E até um pouquinho de vergonha já que a última pergunta foi negativa kkkkk
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