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20.1.20

[Resenha] A Cidade Murada :: Ryan Graudin


A Cidade Murada
Autor: Ryan Graudin
Editora: Seguinte
Páginas: 400
Skoob  | Goodreads | Amazon Americanas | Livraria da Travessa
A Cidade Murada é um terreno com ruas estreitas e sujas, onde vivem traficantes, assassinos e prostitutas. É também onde mora Dai, um garoto com um passado que o assombra. Para alcançar sua liberdade, ele terá de se envolver com a principal gangue e formar uma dupla com alguém que consiga fazer entregas de drogas muito rápido. Alguém como Jin, uma garota ágil e esperta que finge ser um menino para permanecer em segurança e procurar sua irmã. Mei Yee está mais perto do que ela imagina: presa num bordel, sonhando em fugir… até que Dai cruza seu caminho. Inspirado num lugar que existiu, este romance cheio de adrenalina acompanha três jovens unidos pelo destino numa tentativa desesperada de escapar desse labirinto.
Jin sabe o que precisa fazer para sobreviver em Hak Nam, ela não pode ser uma menina, ela precisa correr mais rápido, bem mais rápido e ela não se pode dar o luxo de confiar em ninguém. Não ali, não entre aquelas paredes odiosas cheias de pessoas sobrevivendo e homens levando meninas.

Há dois anos - aproximadamente - sua irmã Mei Yee foi vendida para algum capanga de Hak Nam, e quando se é a filha caçula de um homem que vive bêbado e não teve um filho homem para quem passar as obrigações da fazenda de arroz ou você se torna forte ou morre. Pelo menos é assim que Jin sempre encontrou forças para dar tudo de si nos campos de arroz e proteger a mãe e a linda irmã das piores surras de seu pai bêbado e agressivo.

Por isso quando Mei Yee é vendida Jin não pensa duas vezes, sua irmã é sua luz, ela é quem cuida e zela pela Jin, então ela sobe em sua bicicleta e segue sua irmã até Hak Nam, achando que facilmente poderia encontrá-la e levá-la para longe.

Já fazem dois anos que ela procura, dois anos vivendo nas ruas estreitas de Hak Nam, roubando, fugindo, correndo, sendo um menino rápido. E ela ainda não desistiu.

Dai nunca pensou que chegaria a este ponto, na verdade ele nunca imaginou que pudesse chegar tão baixo, mas a verdade é que naquela noite tudo mudou e Hak Nam foi a única maneira de sobreviver. Mesmo que essa sobrevivência o matasse pouco a pouco.

Até que uma oportunidade surgiu, ele precisa lidar com a Irmandade mas seu tempo está acabando e ele não sabe mais se consegue fazer tudo sozinho, mas Hak Nam não é o tipo de lugar no qual você confia nos outros. Você usa quem acha que pode ser útil e cai fora antes de ser morto.

Até Dai cruzar o caminho de Jin, ou melhor, Jin passar voando pelo caminho de Dai e ele perceber que encontrou seu corredor e está tudo bem, convencê-lo não foi difícil, os corres pela Irmandade são bem pagos. Mesmo que seu peito aperte com a mentira ele precisa aguentar. Ele precisa sair dali. Ele não pode se preocupar. Mas olhar para aquele menino mirradinho o faz pensar e se preocupar.

O faz temer, bem como o olhar arregalado daquela jovem que ele também só deveria usar e cair fora, mas a verdade é que quanto mais ele se preocupa mais determinado a fazer dar certo seu plano ele fica.

Mei Yee não devia se sentir compelida a querer mais do que seu quarto quase lindo - o único com janela -, as flores que recebe de seu único cliente e o fato de que ela tem um teto sob o qual dormir, comida o bastante para não passar fome e roupas para não morrer de frio.

Mas ela quer.

Pensar em casa é uma tortura e pensar no que está perdendo do mundo pode ser sua ruína, por isso ela tenta evitar o máximo tudo isso, mas é impossível não pensar em sua irmãzinha de vez em quando. Então quando olhos astutos a observam pela janela e lhe pedem o impossível em troca de pedaços do mundo lá fora Mei Yee só consegue pensar que ela já perdeu muito e que o medo não deveria prendê-la tanto quando ela já está presa.

E assim a trama envolve nossos três protagonistas. Narrado pelo ponto de vista dos três e seguindo a contagem regressiva de Dai para o prazo final vamos vendo o desenrolar de uma estória para lá de crítica e insana.


Logo de cara percebemos que Hak Nam é uma cidade sem lei, ou melhor, uma cidade em que a lei é sobreviver enquanto não é pego pelos mais fortes e os mais fortes ali são capazes dos piores crimes possíveis. Vemos a pobreza, a infelicidade, a loucura que nos toma quando tudo o que temos é uns restos pra manter no estômago por dias e um sapato que mal cabe no pé para te levar pra longe de quem poderia te matar.

E nessa parte eu me lembrei tanto de becos escuros de algumas favelas brasileiras... 

Observamos como ser pobre, jovem e mulher - bonita - pode ser uma maldição. Como o medo nos toma muito mais que a aversão e como os dias se tornam massas cinzentas diante do desespero que é não ter saída alguma. Não poder mudar nada e se perder dentro de si para não se perder para fora.

Quem fala que sair de uma situação de merda sozinha é fácil não sabe o que é estar numa situação de merda por tanto tempo...

E notamos que o sistema erra e peca até mesmo com quem tem dinheiro quando convém - imagina com quem não tem nunca né? - e que é muito simples transformar um inocente em culpado e usar isso contra a pessoa em benefício próprio e na mesma moeda nos mostra como ter dinheiro quando se é injustiçado te transforma em alguém capaz de fugir das injustiças e buscar maneiras.

Mas esse livro não é uma surpresa só por isso... ele me fez chorar por ser real e protagonizado por jovens que não deveriam se preocupar com mais nada além de serem jovens e mesmo assim estão enfrentando a pior parte da humanidade e lutando para saírem dela ainda sendo humanos.

Vemos como traumas nos corroem e nos moldam e como é difícil destruir esses muros que construímos ao nosso redor. Vemos como é fácil ignorar o podre da sociedade simplesmente porque não diz respeito ao governo ou parcela dele que pode fazer algo a respeito. Vemos como no fim você precisa lutar para ser a mudança de sua vida e se der sorte encontrar umas pessoas que vão lutar ao seu lado para mudar a sua e a deles juntos.

A Cidade Murada foi uma surpresa maravilhosa, profunda e tocante que eu recomendo sim. Tem sim algumas coisas que eu poderia me estender e comentar, mas sinceramente? Isso não tira a profundidade e enormidade do que foi ler essa estória e sentir tudo.

comentários pelo facebook:

14 comentários

  1. Achei bem interessante a sua opinião sobre a obra, eu não conhecia, na verdade nunca tinha escutado falar, mas gostei de saber sua opinião, ótimo trabalho.

    Abç.

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  2. Olá, tudo bem? Não conhecia esse livro ainda, mas, caramba, parece ser uma leitura e tanto! É uma obra bem diferente do que estou acostumada a ler, mas fiquei bem curiosa para conhecer. Adorei a resenha!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  3. Oi Agatha,
    estou sinceramente impressionado com a trama desse livro, fiquei super interessado na leitura, sua resenha está muito boa e me deixou bem envolvido na história!! Mas a verdade é que eu nem fazia noção da existência desse livro e to até agora me perguntando em que mundo estive, porque ele faz exatamente o gênero do tipo de livro que eu leria!! Obrigado pela dica!!

    Beijos!
    Eita Já Li

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  4. meu deus mana, só a sinopse do livro já me deu uns negócio!
    Lendo a resenha eu só surtei! Como que eu não sabia da existência desse livro????? E sem contar que, se for olhar pela capa, jamais imaginaria que seria uma história assim kkkkk
    Tô impressionada com essa resenha e com a descoberta desse livro, adicionei agora na miha wishlist e já precio pra ontem!

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  5. Eu amei o contexto deste livro confesso que estava sem expectativa alguma para ele e agora estou com muita vontade de ler, já me encantei com os personagens e vou adicionar a lista de leitura para 2020. Amei sua resenha, parabéns!

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  6. Olá tudo bem?

    Primeiro de tudo, tenho que dizer que adorei a sua resenha. Está maravilhosa! Ainda não conhecia esse livro e, apesar de ser um pouco diferente do que estou acostumada a ler, gostei bastante da premissa e fiquei curiosa para conhecer melhora essa história.

    Beijos

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  7. Olá,tudo bem?

    Pela sua resenha o livro contém uma história bem interessante e tocante. Fiquei bem empolgada com a leitura, pois é diferente do que leito ultimamente. Deixei a dica anotada. Obrigada.
    Bjos

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  8. Caramba! Que tipo de leitura diferente... Me vi surpresa aqui lendo sua resenha. Acredito que nunca vi ou li nada parecido. Me fez recordar das tristes histórias que ouvimos de famílias que vendem seus filhos a troco de quase nada, ou por não se importarem tanto, ou para não ter mais uma boca pra alimentar. E essas meninas (geralmente) são submetidas a todo tipo de coisa ruim, em lugares escabrosos, cometidos por pessoas que nem humanos deveriam ser chamados...
    Eu não consigo lidar muito bem com esse tipo de leitura. Não sei se daria conta! Mas, achei fantástico conhecer esse seu ponto de vista sobre Cidade Murada. Valeu!!!

    Carol, do Coisas de Mineira

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  9. Eu conheço esse livro, mas infelizmente, não tive a oportunidade de ler, a proposta do livro é forte. Eu gostei muito de sua resenha, trouxe bem a proposta e faz uma crítica justa, principalmente quando você discorre sobre sair de situações de merda, não é fácil e não tem relação com meritocracia. Gostei muito!

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  10. Olá, tudo bem? Eu li uma duologia da autora e amei demais, por isso tenho grandes curiosidades em conhecer essa obra dela. Imagino a complexidade que a história traz, e suas perspectivas, pois é algo característica dela. Adorei a resenha, e dica super anotada!
    Beijos

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  11. Fiquei pensando que só de ler sua resenha me deu vontade chorar, imagine ao ler o livro. Fiquei ainda mais tocada com o fato de vc informar que é uma história real. Nossa, nos deparamos com tantas atrocidades que faz o coração doer e a alma sangrar.

    Bjo
    Tânia Bueno

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  12. NOssa, parece ser uma leitura que me faria chorar horrores. Eu ainda não conhecia o livro e já fiquei muito curiosa com ele

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  13. Apesar dessa obra não ser muito o meu estilo de leitura, confesso que gostei bastante da sua resenha e me despertou interesse. O sistema sempre erra, sempre falha e quem não tem nada sempre são os mais prejudicados. Vou deixar a dica anotada.

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  14. Olá gostei muito da dica de leitura, e sua resenha e considerações ficaram bem legais, eu não conhecia a obra e estou bem inclinada em adquirir para leitura, beijos!

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